Continuando o relato da minha vida escolar....
Nossa
surpresa aconteceu na quinta série, quando voltamos para o Baptista e as turmas estavam mescladas entre os alunos do Baptista e do Maria sttela. No início ficamos apreensivos, mas depois vimos que foi
algo positivo, pois após alguns meses, estávamos amigos e nem entendíamos por que tínhamos
rixas na quarta série. Nessa série tivemos uma professora
que nos abandonou, ela estava grávida e dizia que não aguentava a bagunça, um
dia ela chorou na sala de aula. Ao contrário dos outros anos, a indisciplina
era muito grande, os alunos falavam alto, andavam, brigavam, e pegavam os
materiais escolares que não o pertenciam.
No decorrer dos anos, eu sentava na
primeira carteira, fazia todas as atividades e buscava junto com minha amiga,
tirar a melhor nota. Na sexta série, recebi 4.75 em matemática foi a minha nota
mais baixa, quando descobri chorei e pedi para a professora aplicar uma prova
de recuperação, a professora disse que aplicaria no dia seguinte e então eu
estudei a noite inteira e consequentemente consegui acertar todas as questões e
tirar nota 10.
Na sétima série, eu conheci uma
amiga na escola que de certa forma mudou minha vida, pois ela fazia teatro e
dizia que lia muitos livros, assim, comecei a fazer teatro, e também queria ler
todos os livros que existissem na biblioteca, eu achava um absurdo não ter lido
nenhum livro com 13 anos, então comecei a emprestar livros da biblioteca. Toda semana eu pegava um livro como:
Pollyana, Pollyana Moça, A marca de uma
lágrima, Amor impossível possível amor entre tantos outros, após alguns
meses, lia os livros do Pedro Bandeira em apenas uma tarde. No intervalo das
aulas eu conversava com a uma amiga sobre os livros que estávamos lendo, eu
aprendi a gostar de ler com ela, pois ela falava com prazer dos livros que lia.
Uma tia minha incentivou esse gosto e me deu uns livros considerados clássicos
da literatura, assim, sem saber dessa característica eu li Dom Casmurro de Machado de Assis e depois fui conversar com a minha
professora de português perguntando: “professora, aquela história é verdade?
Porque ele fala na primeira pessoa”, a professora explicou que a história não
era verdadeira e aquela era a forma que alguns escritores escreviam.
Essa professora de português não
ensinava muito sobre livros, mas ensinava sobre a análise sintática de frases,
a forma e o conteúdo que ela utilizava está gravado em minha mente. Ela era
muito rígida e exigia silêncio absoluto, pois dizia que sua enxaqueca se
manifestava com o barulho. Assim, não podíamos conversar e ao chegar à sala de
aula ela esperava silêncio, em seguida, escrevia o conteúdo na lousa, enquanto copiávamos
ela explicava e depois fazíamos atividades.
Talvez o diferencial dela em relação
aos outros professores é que ela realmente dominava o conteúdo e respondia todas
as perguntas que fazíamos. Apesar de ser uma ótima professora, não gostávamos
de ter aula com ela, pelo fato de ser cansativo ficar em silêncio por 50
minutos.
Quando a professora repreendia-me eu
ficava pensando e repensando que deveria ter sentado, ou ter falado menos. Eu
era disciplinada, e qualquer apreensão dos professores fazia com que me
sentisse mal e pensasse: “amanhã ficarei em silêncio”.
Na 8ª série, gostei muito da formação da turma,
pelo fato de conhecermos uns aos outros. Havia alguns meninos que eram muito
engraçados, ríamos todos os dias, porém às vezes ficávamos tristes, pois
sabíamos que no ano seguinte a sala seria transformada, pois muitos alunos
mudariam de escola.
Nesse ano, fizemos camiseta, com a
seguinte frase “não somos melhores e nem piores somos apenas diferentes”, nos
sentíamos diferentes, pois éramos uma sala unida. Essa união, fez com que a
turma fosse castigada, pois uma menina da nossa turma rasgou o caderno de
ocorrências da escola, então a diretora foi até a sala e perguntou quem tinha
feito aquilo, nós sabíamos quem era, mas não contamos. A diretora começou a
ameaçar, fingiu que ligou para a polícia e por fim disse que ficaríamos sem
participar do interclasse, que era um período do ano que ocorria jogos entre as
classes (futebol, vôlei e outros).
Na minha sala tinha os melhores
jogadores de futebol da escola e esperávamos com muita expectativa os jogos, mesmo o jogo
sendo tão importante para a sala, ninguém contou quem tinha rasgado, e a
diretora disse: “Se vocês não contarem ficarão sem interclasse” e assim não
participamos dos jogos. Uma amiga minha e eu apresentamos um teatro para
representar a turma no interclasse e o tema do teatro era provar que todo adolescente
queria aparecer.
Fazíamos festa da primavera na
escola, vendíamos bolo, brigadeiro, refrigerante para arrecadar dinheiro para a
formatura, esse dinheiro era administrado por mim e por uma amiga, no final do
ano a turma foi para um parque aquático com o dinheiro arrecadado e nos divertimos
muito. Na formatura, mais precisamente no
dia da colação, escrevi um texto que foi corrigido pela diretora e assim pude lê-lo em
homenagem aos professores que gostaram de tal ato. Além disso, teve premiações
para os três melhores alunos de cada turma e eu recebi uma medalha de “Honra ao
Mérito”, os demais alunos disseram que já sabiam que eu receberia.
No segundo ano do ensino médio, comecei
a trabalhar e mudei para uma escola que atendia no período noturno, a escola
também era estadual e era denominada “Baltazar
de Goy Moreira”. Minhas recordações dessa época são mais negativas do que
positivas. No terceiro ano do ensino médio, eu chegava à sala cansada e a sala tinha muita desordem, barulho
e bagunça. As maiorias dos professores não se importavam muito e ao contrário
da outra escola eu não queria relacionar-me com eles.
Havia um professor, que realmente se
interessava e queria que aprendêssemos, seu nome era Tolói, cuja aula era
agradável e demonstrava um grande domínio da matéria (o que não era comum entre
os outros professores). Esse professor era um dos mais respeitados pelos
alunos, não por medo, pois ele era um dos poucos que não gritava e raramente
ficava nervoso, dessa forma o respeito era em decorrência da grande admiração
que os alunos tinham por ele, mesmo os que não se interessavam pelos estudos o
admiravam dizendo que ele sabia muito sobre história e demonstrava segurança
sobre o que falava, outra característica dele era que não faltava às aulas, ele
foi meu professor por dois anos, e não faltou nenhuma vez, (já com os outros
professores não se pode dizer o mesmo).
Ao descobrir que eu tinha escolhido
pedagogia como curso superior, ao contrário dos outros professores, ele me
incentivou bastante e disse algo que sempre irei lembrar: “Não importa o que
você fizer, no mundo precisamos desde o pedreiro até o médico, mas se você
escolher ser um pedreiro então você deve ser o melhor pedreiro, assim como o
médico e as demais profissões”.
É impossível falar da minha trajetória
escolar e não citar o nome do Tolói. Ele respondeu todas as perguntas que eu
fazia, mesmo se a aula era sobre segunda guerra mundial e eu perguntava do
descobrimento do Brasil, ele respondia e nunca disse que não estávamos
trabalhando com aquele conteúdo. Quando tínhamos aula vaga uma amiga minha e
eu, pedíamos para ele responder algumas dúvidas e ele fazia prontamente.
Comumente eu costumava dizer que nos
dois últimos anos do ensino médio, a escola tinha atrapalhado e não ajudado meu
aprendizado, assim ao perceber como o ensino era precário, comecei a estudar
sozinha frequentando todos os dias, a biblioteca municipal da cidade de
Marília.
No ano seguinte, estava com 17 anos
“entrei” na UNESP, passando em sexto lugar no
vestibular, apesar de algumas invariantes como: estudar apenas em escola
pública, estudar no noturno e ter trabalhado nos últimos dois anos, não ter
feito cursinho pré- vestibular e estar saindo do ensino médio.
Na UNESP, rapidamente me acostumei com a forma
diferenciada de ensino, tínhamos que ler um texto que posteriormente era
explicado pelo professor, assim, na aula o texto era exposto mesclando com
nossas dúvidas. Eu adorava o fato de já ir para a aula sabendo o conteúdo que
seria tratado, e conclui que era mais fácil aprender quando eu já tinha uma
breve noção sobre o tema.
Os professores instigavam nossa
criticidade e eram constantes os debates, que ao contrário da escola não
alterava em nada as afinidades, desse modo, eu poderia discordar da minha amiga
e apresentar argumentos para tais discordâncias, mas isso não mudaria nossa
amizade. A forma de avaliação era diferente, não tive provas, mas trabalhos e
seminários que inicialmente resultavam em um certo receio.
Em breve postarei sobre um texto que elaborei a partir da sensibilização em uma aula de teatro...
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