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quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Coincidência poética

Cá estou eu em Corumbá/MS, certo dia estava eu em um evento on-line quando fiz uma pergunta a palestrante que logo disse "Ah, essa é a Aline, professora da UFMS, uma parceira, obrigada Aline...". Estava eu logada com meu nome completo, o que possibilita o acesso ao meu currículo e consequentemente ao meu e-mail, pouco tempo depois, recebi um e-mail que era mais ou menos assim "Sou professor da UFMS de Campo Grande/SP, que prazer ter uma companheira no evento, caso precise de algo aqui está meu Whats".


Corumbá/MS

Caiu como uma luva, eu estava precisando de algo e não sabia muito bem a quem perguntar, então rapidamente iniciei as perguntas sobre a pesquisa que naquele momento eu estava pensando em submeter ao sistema da universidade. Em meio a gentileza do auxílio, a conversa foi finalizada com a indicação de Manoel de Barros, eu conhecia bem o escrito desse poeta, utilizei ele como epígrafe na minha tese, mas não sabia que ele morou aqui em Corumbá/MS e em Campo Grande/MS.

Que coincidência maravilhosa, Manoel representa meu olhar, minhas defesas e mal sabia eu que a inspiração dele é essa aqui que estou vivendo! Totalmente compreensível.

  

Agora te entendo  mais ainda Manoel e olha, neste lugar que você mesmo disse que muitas vezes é lugar desprezado, eu como você não consigo entender! É preciso de um olhar profundo para compreender que é aqui que vale a pena viver.

  

Manoel escreveu um pouco sobre ele, compartilho abaixo:


Auto-Retrato Falado
"Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou
abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que
fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer da moral porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore."


Manoel, temos muito em comum, eu também aprecio, para mim o valor das coisas mesmo não está em marcas ou propriedades, mas na paz de um lindo sol se pondo! 

Continuo a seguir, compartilhando outro texto do poeta:



"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios."


É Manoel, eu também entendo os sotaques das águas, o falar do vento, o deslumbre do sol beijando as àguas, também dou importância ao desimportante e o simples me fascina! Meu quintal é maior que o mundo, pois é tudo que cabe no meu olhar. 

Ah  e só para avisar, lembrei de você, pois desde semana passada a cada evento que participo você é declamado com um brilho nos olhos que só quem vive no Pantanal pode demonstrar!



                                                                          Corumbá/MS


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