Certo dia tive um
diálogo truncado desses que nos faz refletir por dias o porque daquele diálogo
ter me afetado tanto, o diálogo iniciou-se quando mencionei que meus filhos
poderiam ter os brinquedos que quisessem. Quem estava comigo masculinamente respondeu
que não, pois menino não poderia ter bonecas e nem menina carrinhos que não
fosse aqueles rosa (da barbie ou da Polly) como se dissesse que há brinquedos
para meninos e brinquedos para meninas.
As mulheres hoje,
ocuparam espaços nunca antes ocupados e os homens passaram a dividir esses
espaços com as mulheres, ao ponto de não haver uma divisão do que é de menino e
do que é de menina. As mulheres aprendem a dirigir, fazem faculdade,
especialização, mestrado, doutorado, compram sua própria moto, seu próprio
carro, sua própria casa, viajam sozinhas, trabalham em vários empregos e assim
vão desbravando o mundo. Os homens por sua vez já não as tem o tempo todo ao
seu lado, a dividem com as suas rotinas lotadas e acabam tendo que aprender a
cozinhar, limpar a casa e cuidar de filhos (quando elas escolhem os ter).
No meio disso tudo vejo
alguns homens com identidade confundida, não sabem até onde vão, o que fazem ou
o que não fazem, na hora de pagar a conta, eles não veem problemas em ter uma
mulher independente ao seu lado que paga sua parte ou paga a conta inteira; na
hora de lavar o carro ou a moto e abastecer eles também não veem esse problema,
mas na hora de ser guiado por ela, na hora de pensar nos serviços domésticos,
então jogam fora toda valorização da mulher independente... “Deixa que eu
dirijo, você não sabe dirigir...somente eu sou bom nisso...você tem que
aprender a cozinhar, você terá que cuidar da casa...” e etc. OU SE VALORIZA EM TODOS OS SENTIDOS A
MULHER INDEPENDENTE OU NÃO SE VALORIZA!
Se fosse para eu
escolher uma sociedade a viver com certeza não seria essa, é uma crise de
identidade de ambos os lados. Eu sei o tipo de mulher que escolhi ser, mas a
sociedade não sabe, meus pais e qualquer outros pais com certeza nunca
entenderão e por mais que finjam que entendem eu sei que no fundo não admitem
eu ter escolhido estudar ao invés de ficar em casa, eu ter escolhido trabalhar
ao invés de ter filho, eu ter escolhido viajar para estudo ao invés de comemorar
datas importantes, eu ter escolhido ficar a madrugada acordada para estudar, ao
invés de dormir.
Eu escolhi fazer pós, trabalhar, viajar,
dirigir, pagar para comer uma comida caseira ao invés de fazer, eu escolhi me
vestir e sair de casa para comer aquele doce que tenho vontade do que encarar o
fogão e tentar fazer, eu escolhi não saber cozinhar e sonhar em ter um escritório ao invés de uma cozinha.
Ao contrário do que a
masculinidade afirma, eu não tenho o dom para a cozinha, sou tão descompassada
como qualquer homem e quer saber? Eu não estou fazendo a mínima para aprender,
em meio as pós da vida, minha preocupação está mais relacionada a aprender a
nova gramática, a pesquisar de maneira rigorosa, a contribuir cientificamente
com a sociedade, a cumprir os créditos da disciplina, a fechar meu projeto de
pesquisa, a enviar trabalhos a eventos, a ter meu artigo aceito na revista
renomada...
Eu não sou uma mulher
desse tempo, sou moderna apesar de ser a moda antiga, apesar de carregar em mim
valores cristãos e morais, há coisas em mim que não são antigas. Meus filhos
brincarão com o que quiserem, se meu filho querer uma boneca ele vai ter
(afinal, um dia ele poderá escolher ter filhos), se meu filho querer brinquedos
que lembrem a cozinha ele vai ter (afinal, espero que se case e divida as
tarefas domésticas com sua esposa), se minha filha querer carrinho ou moto de
brinquedo ela vai ter (afinal, espero que tenha seu próprio meio de locomoção),
se minha filha querer hominhos que lembram exército, policiais e etc ela vai
ter (afinal, já existem mulheres trabalhando nessas profissões). Eu não
estabelecerei limites aos meus filhos, a liberdade que eu tive de escolha (nesse
sentido), eu a passarei para meus filhos.
E que a sociedade não
tente tirar essa minha liberdade, dizendo que como mulher devo fazer isso,
aprender aquilo, ficar em casa, lavar, passar, cozinhar, limpar e ainda para
ser ideal poderei porventura trabalhar (desde que não atrapalhe os serviços
domésticos) e entregar todo o meu dinheiro dentro de casa. Eu posso afirmar que
escolhi ser mulher e nessa escolha eu escolhi ser eu e ignorar os preconceitos e
as pré concepções estabelecidas por essa sociedade fora do meu tempo.
Ai Aline, sonho com um mundo onde as mulheres escolham ser elas mesmas ao invés de viver tentando se encaixar num padrão de "boa moça"! Concordo muito com seu texto.
ResponderExcluirQue um dia esse sonho se torne realidade é mais leve viver sem padrão :)
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